28 de dez. de 2008

Aventuras de Natal II - Elling


A casa de minha mãe é rodeada de um silêncio profundo. Não há vizinhos, som alto ou qualquer coisa do gênero. No inverno aproveitamos bem o terreno, pois o clima é muito gostoso e passeamos entre as plantas e as pedras, colhemos frutas nas árvores e vegetais na horta. Parece o paraíso não é mesmo?, Mas quando chega o verão as coisas não são tão bucólicas assim, devido ao sol causticante e seus efeitos passamos a maior parte do tempo dentro da casa, que é quase um bunker contra o calor do Cariri.

Minha mãe se diverte nos alimentando, mas nem só de pão vive o homem - "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte" - é por isso mesmo criamos o nosso esquema de diversão. Nas semanas que antecedem a travessia da estrada começamos a escolher os filmes, que iremos ver enquanto estivermos lá.

Na nossa última incursão natalina à casa de minha mãe, assisti um filme lindinho. Lindinho é o adjetivo que utilizo sempre que me refiro a um filme que te deixa com um semblante leve ao final, te conduzindo pela mão para um lugar seguro e feliz. É o caso de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", "Um lugar chamado Nothing Hill", "Procurando Nemo" e o mais novo integrante da galeria "Elling".

O filme norueguês, tem todos os ingredientes para ser pesado. Elling e Kjell Bjarne são pacientes psiquiátricos, que se encontram em um sanatório e iniciam uma amizade um tanto quanto inusitada. Depois de dois anos, eles são enviados para Oslo para participarem de um programa social de reintegração, onde deverão dividir um apartamento e desempenhar todas as atividades dos "normais". O filme, delicadamente, vai nos mostrando as dificuldades dos diferentes, a tentativa deles em proteger o seu mundinho isolado e perfeito, e principalmente, a amizade entre o pequenino e mandão Elling e o gigante e doce Kjell Bjarne.

Não deixa grandes perguntas filosóficas, nem questionamentos sobre a nossa existência. É leve, é bonito e agradável. Fala das coisas cotidianas de forma simples, . Nos envolvemos com os personagens e em pouco tempo queremos fazer parte daquele grupo de figuras excêntricas, mas adoráveis.

Foi um grande programa de Natal.

27 de dez. de 2008

Aventuras de Natal I - A Chegada

O céu cheio de estrelas de retalhos feitos pelas mãos de Dona Celina

Indubitavelmente o Natal é a festa do ninho. E como pede a ocasião, voei para o meu. Estamos aqui na casa de minha mãe, no interior da Paraíba, num quenturão que não deixa nada a dever ao famoso calor de Senegal.

A nossa chegada é sempre uma festa. Minha mãe diz que entende se não viermos, mas fica sonhando com tudo que faremos juntas nos dias que estivermos aqui e, obviamente, eu venho realizar o seu sonho de natal.

Este ano a grande novidade da festa natalina foi a decoração várias estrelas, que ela produziu. Ficou linda, linda, linda.

E para acompanhar a decoração, segue a música de Zeca Baleiro e seu céu cheio de estrelas.

Boi de Haxixe


Meu bem eu cheguei agora
mais eu te peço
tu não vá chorar
Por favor, me dê a sua mão
Entra no meu cordão
Venha participar

Quando piso em flores
Flores de todas as cores
Vermelho sangue,verde-oliva,azul colonial
Me dá vontade de voar sobre o planeta
Sem ter medo da careta
Na cara do temporal
Desembainho a minha espada cintilante
Cravejada de brilhantes
Peixe-espada vou pro mar
O amor me veste com o terno da beleza
E o saloon da natureza
Abre as portas preu dançar

Diz o que tu quer que eu dou
Se tu quer que eu vá eu vou

Meu bem meu bem-me-quer
Te dou meu pé meu não
Um céu cheio de estrelas
Feitas com caneta bic num papel de pão

Meu bem eu cheguei agora
Mais eu te peço tu não vá chorar
Por favor, me dê a sua mão
Entra no meu cordão
Venha Participar

Casa da minha mãe, 24 de dezembro de 2008.

22 de dez. de 2008

" A saudade é um filme sem cor, que meu coração quer ver colorido"


Hoje a saudade está de amargar. Não há um só dia que eu não pense nela. Também pudera, ela estava sempre conosco. Bastava que acordássemos para ela celebrar efusivamente o novo dia que iríamos compartilhar.
Éramos uma tríade. Ela era tão presente na nossa vida, que sua ausência ainda me dói como se tivesse acabado de se iniciar.
Sua presença permanece em todos os cantos da casa, mesmo que o ambiente tenha mudado de cor, de móveis e de quadros. Não há mais seus potes, seu puff vermelho, seus brinquedos e muito menos a sua linda carinha no braço da poltrona. Sinto falta da sombra que me acompanhava para todos os lados. Ainda espero ouvir suas boas vindas quando abro a porta, mas como diria Marisa Monte : "A sala, o quarto, a casa está vazia, a cozinha, o corredor. Se nos meus braços ela não se aninha, a dor é minha, a dor."
Doze anos, 2 meses e 18 dias de maravilhosa convivência. Tudo acabou! Não há mais aquela criatura que se enfiava por debaixo do meu braço, como um pintinho embaixo da asa da mãe. Se me perguntarem do que mais sinto falta, posso dizer sem titubear: da confiança. Confiança que ela depositava em mim, essa sim era o símbolo maior do amor que ela me dedicava e foi assim até o último dia.
Os seus lindos olhinhos tristes, estavam ainda mais tristes no final, não por ela, mas por mim. Eu desejei, com todas as minha forças, mais um milagre, mais um sim, pois ela já tinha recebido tantos: dois câncer vencidos, uma piometria de emergência, onde a equipe dizia que devido a idade - 10 anos - e ao coração, as chances dela seriam mínimas.Tive imensa dificuldade em deixá-la partir, mas ela foi generosamente paciente comigo e me ajudou a aceitar que ela iria se despedir para sempre. No dia 01 de dezembro de 2007 ela se foi e deixou um vazio tão grande quanto seu amor e sua alegria.
Certa vez, estava assistindo um programa de TV, de entrevistas e o tema era: adestrando os donos e obviamente falava das pessoas e seus cães. E aí eu vi o Walcyr Carrasco, autor do livro o "anjo de quatro patas" contar sobre uma lenda, não sei de que país, que dizia o seguinte: Existe uma espécie de céu dos cachorros, um lugar onde todos eles, que já se foram, estão, e esse lugar é separado por uma ponte. Quando o antigo dono deixa este mundo, também segue para a tal ponte. Então seu cachorro vai até ele, e o ajuda a atravessá-la, conduzindo-o para a Eternidade. Ao ouvir isso, pensei e não pude conter o sorriso imaginando a festa, nunca antes vista por aqueles lados, que ela fará ao me ver, pois estará esperando ansiosamente ao pé dessa ponte e quando eu chegar, ela rebolará mais do que chacrete. Vou colocá-la no colo, abraçá-la, beijá-la, coçar seus ouvidos e depois seguiremos correndo pela tal ponte para esse lugar onde nunca mais teremos que nos separar.
Mega: beijo, boca, mãe.

Para Megabyte, que nos deu o prazer de compartilhar a sua linda vida conosco.

13 de dez. de 2008

Ele não é lindo?!


Meu amiguinho da Banda

Evite o Primeiro Acorde.


Talvez você me conheça bem, mas tem uma coisa sobre mim que só aqueles que convivem na diária, e tem grande percepção, conseguem captar: eu sou uma viciada nata. Graças ao meu bom Deus, nunca curti coisas ilegais, pois se o fizesse com certeza ia fazer a Amy Winehouse parecer uma freira. Eu sou assim afeita a certos transtornos obsessivos compulsivos. Podia desfiar um rosário deles, mas acho que isso só ia deixar você com medo e querendo chamar os enfermeiros para me vestirem com a roupinha que dá um laço atrás.
O meu mais novo vício, sim para se curar tem que admitir, é o GUITAR HERO III. Tudo começou com um inocente: "você vai gostar desse joguinho", eu aceitei dar uma experimentada, e pronto: viciei.
De repente estava numa banda, junto com o avatar de Flavinho, que merece uma postagem só para ele, mundo afora fazendo shows nos lugares mais incríveis, tocando músicas maravilhosas que neste mundo descolorido e real que vivemos, jamais tinha ouvido.
Como eu e Flavinho fazemos parte da mesma banda, e ele é o punk mais feio que já vi na minha vida (os sapatos são um espetáculo a parte), resolvi escolher um personagem para contrabalançar a sua beleza singular, portanto eu sou Midori, uma japonesinha que começou a tocar violino aos 3 aninhos de idade, mas abandonou tudo para ir para o lado negro da força - pelo menos deve ser assim que pensam seus antigos professores.
Ela é uma personagem lindinha, com seus cabelinhos coloridos de maria-chiquinha, suas roupinhas estilosas, bem colegiais. Ela toca baixo, pois o punk toca guitarra.
O nosso maior problema é a canção black magic woman de Santana. Já fomos vaiados tantas vezes por causa dela, que você nem queira saber. Toda vez que acontece isso ela chora encobrindo o rosto e ele sai cambaleando pelo palco, acho que deve ser labirintite.
O jogo tem historinhas no desenrolar dos níveis: já fomos presos, já fomos tocar no Japão e também no inferno.
Agora passamos para outro nível, saímos do fácil, para o médio e Midori está sentindo a pressão. Temos sido vaiados até na mais legal e fácil das canções: Slow Ride do Foghat - que acabou ficando impregnada em mim - coisas do vício.

23 de nov. de 2008

Pedro Miguel e a pergunta que não quer calar.


Nós temos dois afilhados: João e Pedro Miguel. Mas como eles são muiiiiiiito especiais, futuramente, vou dedicar a cada um deles um texto em particular. Agora prefiro contar um fato engraçadíssimo, que aconteceu com o caçula.
Pedro Miguel fará dois aninhos esta semana. Sendo ele o primeiro filho, neto e sobrinho, qualquer novidade é sempre uma apoteose - logo, a ida à escola não poderia ser diferente. A avó, toda orgulhosa com a introdução do neto no mundo das letras, resolveu presenteá-lo com utensílios escolares de primeira necessidade: bolsa e lancheira. Obviamente, o presente veio embalado, em papel colorido, cheio de desenhos. Ao deparar-se com o pacote, o miúdo, cheio de sonhos e expectativas, não se fez de rogado. Todo feliz , destruiu o papel da maneira que deve ser feito: furiosamente, este sim modo correto de abrir os nossos regalos. Mas de repente o sol se foi para de trás das nuvens , pois ao deparar-se com a bolsa e a lancheira, Pedro Miguel olhou para a avó e questionou:
"E o carrinho?"
Oh vovó, assim enfraquece a amizade....

19 de nov. de 2008

O Sol é para todos, mas pode ficar com a minha parte para você.



O calor chegou e parece que veio para ficar. Nossa como está quente. Sinto-me em um vestibular para inferno. Tenho protagonizado cenas ridículas como a de usar leque no ponto do ônibus. Chego a sentir uma tristeza profunda, quando penso que terei que ir à rua, nem que seja aqui na esquina. Que calor é esse?! Eu, como já disse em outra postagem, nunca conseguir ver graça no calor. Renata e Rosana que a esta época do ano estão batendo os queixos e sofrendo as agruras do inverno, vivem retrucando-me dizendo que o frio é muito pior.Se eu fosse besta, entrava nesta discussão, que obviamente, não terá fim nunca, já que a grama do vizinho é sempre mais verde que a nossa. Mas sinceramente, qual a graça que há em suar como um chaleira no fogo? De que serve o verão para pessoas como eu, que detestam praia, cerveja e sol? Que felicidade há em esperar a conta da luz com o uso constante do ar-condicionado? Estamos sempre melecados, por mais banho que tenhamos tomado. Ai o sol, os trópicos, as brotoejas.... A temporada ainda nos impõe regras de beleza. Sim, no verão temos que ser magros, sarados e sempre sorridentes... Olha aí outro motivo para eu achar nossas diferenças são irreconciliáveis. Academia, pelo a menos a de ginástica, nunca foi meu forte. Sou fraquinha e deve ser por isso que não consigo malhar. Na realidade só consigo malhar o pau no verão. Neste exato momento uma bola de fogo incandescente está por trás da minha cortina, que bravamente tenta defender a nossa casinha do poder caústico do astro rei. Dizem que a temperatura vai subir ano a ano. Do jeito que vai poderemos, em breve, aposentar nossos fornos e colocar a comida para assar na janela.
Na próxima encarnação quero vir pinguim.

8 de nov. de 2008

Bateria descarregada



"Você está com sono,
Muito sono,
E quando eu contar até três
Você vai dormir profundamente"
Em breve eu conto porque estou tão cansada.

4 de nov. de 2008

Deus ajuda a quem cedo madruga



Era 5h30 quando Flávio me "obrigou" a assistir Wall-E. Devo dizer que as 5h30 da manhã ainda não sou o habitual ser bem-humorado e centrado que você conhece, pois esse só bate o ponto às 8h. Mas para não começar o dia deixando o meu lado monstro vencer o meu lado médico, segui para o sofá pensando: "se for chato, cochilo e acabou". Precisou de três minutos, isso mesmo, apenas três belos minutos, para que eu ficasse totalmente apaixonada pelo protagonista do filme.
Eu poderia falar sobre a história, sobre o roteiro, sobre o maravilhoso e irretocável trabalho da Pixar - que entendeu que criança não é burra e por isso mesmo faz cinema de qualidade para esse público tão inteligente, agradando os miúdos e emocionando os pais e agregados.
O filme tem diversas passagens da literatura e do cinema. Músicas de extremo bom gosto e sacadas fantásticas, como o barulhinho típico do iMac ao ser iniciado. O nome da nossa heroína, remetendo a primeira mulher, aquela que fez companhia a Adão, quando ele vivia por essas bandas, sozinho... O animalzinho de estimação de Wall-E é aquele que sobreviverá a hecatombe nuclear, mas que a Pixar faz ficar tão lindo quanto um cachorrinho peludo. A falta de diálogo entre os personagens principais é outro atrativo. No cinema isso é a certeza absoluta que uma imagem vale mais do que mil palavras.
Mas é lógico que os humanos também aparecem no filme. A crítica a raça humana é fina como uma agulha, mas o líquido dentro da injeção é grosso. No filme somos seres gordos, preocupados apenas com nós mesmos, que vivemos conversando com os outros através de aparelhos, mas não temos a mínima idéia de quem está do nosso lado. É o mundo dos mp3, dos telefones celulares, das áreas de internet grátis, que nos levam para onde quisermos, sem precisarmos sair de nossas cadeiras e nos liberta da presença do nosso vizinho. É a sociedade do "eu me basto".
Poderia ficar aqui falando horas sobre o filme, porque ele realmente merece, mas eu quero que você assista, reconheça as pistas de literatura e cinema e que principalmente possa se divertir e emocionar, como eu tive o prazer de fazer. Agora uma coisa tem que ser dita: não perca os créditos, provavelmente é o mais bonito e inteligente que eu já vi na minha vida. Se você curte artes plásticas vai continuar reconhecendo muitas outras coisas.

2 de nov. de 2008

Pelas águas do Capibaribe

Foto: Flávio Costa

Eu tenho as mãos e os dedos magros e longos, as quais meu avô paterno chamava de mãos de carcamano. Elas são iguais as do meu tio Rui, mas não são só as mãos que são iguais, além desta característica genética, temos em comum a paixão por viagens e museus, nos quais adoramos ler as placas, embora nossos acompanhantes estejam sempre dizendo: "vamos embora, vamos embora!"
Pois bem, neste mês de outubro tive a grande felicidade de recebê-los em minha casa. Foram dias maravilhosos. Ele e minha linda tia Ivani chegaram com um belo itinerário a ser cumprido, muita disposição e um carinho enorme pela nossa cidade. Fomos aos Brennand, a restaurantes, ao centro histórico, a Olinda, mas teve um passeio que nos surpreendeu de forma muito positiva. Trata-se do passeio noturno do Catamarã.
Sem sombra de dúvidas Recife é uma das mais belas cidades do país, desculpando-me as demais, se não for a mais bela. Em sua peculiar geografia encontra-se o rio Capibaribe, sua vegetação e ilhas que foram ligadas graças ao desejo do homem de estar em todos os lugares e para isso fez-se as pontes, marca registrada da nossa cidade. Elas, que em sua ampla maioria, são imóveis (lembre-se das giratórias e das levadiças) nos permitem a total mobilidade na cidade dos mangues. Pois bem,o referido passeio nos leva a ver o Recife de outro ponto de vista, de dentro do rio. Passamos sob sete pontes com direito a pedidos e salva de palmas e vemos a cidade emoldurada pela noite. E como é bela a minha cidade. Seus prédios antigos, seus murais de Brennand, sua vegetação fluvial, tudo nos remete à poesia. Recife é uma antiga dama, a qual se observarmos com total atenção e carinho poderemos ver a sua infinita beleza apesar das marcas do tempo e dos descasos que lhe foram impostos. Portanto, se você não estiver fazendo nada, vá até o bar Catamarã, lá no Forte das Cinco Pontas e entregue-se ao rio Capibaribe. E para influenciar ainda mais essa idéia deixo um texto de "A tarde no Recife", do poeta, engenheiro e recifense Joaquim Cardozo.

Tarde no Recife

Joaquim Cardoso


Da ponte Maurício o céu e a cidade.
Fachada verde do Café Máxime.
Cais do Abacaxi. Gameleiras.
Da torre do Telégrafo Ótico
A voz colorida das bandeiras anuncia
Que vapores entraram no horizonte.

Tanta gente apressada, tanta mulher bonita.
A tagarelice dos bondes e dos automóveis.
Um carreto gritando — alerta!
Algazarra, Seis horas. Os sinos.

Recife romântico dos crepúsculos das pontes.
Dos longos crepúsculos que assistiram à passagem
[dos fidalgos holandeses.
Que assistem agora ao mar, inerte das ruas tumultuosas,
Que assistirão mais tarde à passagem de aviões para as costas
[do Pacífico.
Recife romântico dos crepúsculos das pontes.
E da beleza católica do rio.

Para meus tios Rui e Ivani, que têm sempre um olhar apaixonado pelos lugares a desvendar

Estou atrasada! Estou atrasada!



Como diria Roberta Miranda: - “São tantas coisas....”. Na realidade foram tantas coisas em tão pouco tempo, que acabei me afastando do bic por um curto, mas doloroso, período. No entanto vamos ver como isso como matéria-prima abundante para o nosso blog, ok?


15 de out. de 2008

Dia dos Professores

Na vida nós sempre buscamos acumular, pode ser dinheiro, propriedades, status, amigos entre outras coisas. Todas elas nos são caras e temos dificuldade de dividi-las, buscamos protegê-las e quando possível passar para nossos descendentes. Mas tem uma coisa que acumulamos e que invertendo a ordem rígida da matemática, quanto mais dividimos, maior é seu quociente: conhecimento. Só que este é um bem da alma, que temos que usufruir por inteiro já que não vai figurar em testamento algum. E aí é que entra esse personagem que sempre me encantou, o professor.

O professor é aquela figura que tem como seu maior patrimônio o conhecimento e fica feliz em dividir com seus alunos. Agora quer ver ele feliz mesmo é quando um de nós recebe a dádiva e começa a pensar sobre ela. Quando ela mexe com a gente e já não estamos mais no mesmo lugar. Nunca mais seremos os mesmos depois de receber aquele ponto de luz em nossos neurônios.

Têm vários tipos de professores: o show-man, o tímido, o severo, o meigo, o que está aprendendo, o viciado (aquele que não precisa mais dar aula, mas segue para a sala com toda empolgação), o que usa vários recursos, o que só usa um lápis pilot, o que ri com a turma, o que faz a turma chorar. Todos eles são únicos e todos eles entregam para nós o que eles julgam ser sua maior riqueza e talvez por isso mesmo a figura deles me emocione tanto.

Eu desejo a todos os mestres do mundo tudo de bom que houver nessa vida.

11 de out. de 2008

Dom do Amor.




Hoje, durante o meu momento relax, eu estava vagando na internet, abrindo página aqui, página ali e de repente descobri em uma matéria do Pernambuco de A/Z, uma carta inédita de Dom Hélder Câmara, carta esta que ele escreveu no dia que assassinaram brutalmente Padre Henrique, seu assessor direto.
Como se trata de uma manhã preguiçosa de sábado resolvi procurar no Grande Oráculo (leia-se Google), que informações havia sobre o Padre Henrique. Obviamente, o nome dele estava sempre atrelado a Dom Hélder. Quero antes de retomar o tema Dom Hélder dizer que Padre Henrique foi bem mais do que apenas o assessor direto do Arcebispo de Olinda e Recife na década de 60. Ele era um jovem preocupado com a integração entre pais e filhos, em um tempo que havia se aberto um fosso imenso entre essas duas "categorias" de cristãos. Corajoso e cioso de sua missão, mesmo quando amplamente ameaçado por covardes (pior tipo de ameaça que há, pois nela não qualquer vestígio de honra e sem honra não há misericórdia) o padre Henrique permaneceu acreditando em seu trabalho até que foi massacrado pelas forças da repressão.
Mas o que falar de Dom Hélder? Quando eu era criança, por diversas vezes o encontramos no centro da cidade, com suas batinas bege e aquele colarinho que é tão peculiar aos padres. Minha mãe recorda-se de vê-lo muitas vezes olhando para o alto - hoje acho que ele estava conversando - como se admirasse a beleza do azul do céu recifense. Mas o que realmente era bonito de se ver, era como ele era afetuoso com aqueles que o encontravam e vinham falar com ele. Acho que quem ama seu semelhante, sempre vê a si mesmo no outro, talvez por isso ele celebrasse com tanto carinho esses encontros.
Durante a minha pesquisazinha de nada, pude ver o quão injustiçado o Dom Hélder foi. Imagine você o que é ser acusado, achincalhado, ter suas palavras deturpadas e não poder, por ordem tácita e expressa do Estado, ter ampla defesa ou direito do contraditório e mesmo assim não esmorecer. Acreditar sempre nos seus ideais e que nada foi em vão. Creio que sua angústia de homem, foi diversas vezes esmagada por sua fé e agradeço a ele por isso. Acreditava que dias melhores viriam e não só acreditava, como fazia por onde abrir caminho para eles. " Eu aprendi isto em 1980, quando estudava as ocupações no Recife, e pude constatar que o D. Hélder Câmara contratava os melhores jovens advogados do Recife para poder apoiar a luta pela legalização das ocupações de terras à luz de preceitos constitucionais, que ainda não eram os de 1988, e organizava à volta da ação judicial uma forte mobilização política"(1).
Dom Hélder se importava com o seu semelhante. Queria que todos tivessem uma vida melhor, digna e feliz. Ele buscava o que todos devem buscar, justiça social e respeito ao próximo. Não é à toa, que só ele tem o título de Dom do Amor

Para você que ficou comigo até agora, uma frase de Dom Hélder:

“Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante ... Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo...”

(1) Para uma Revolução Democrática da Justiça. Boaventura de Souza Santos.
Cortez Editora, 2007.

5 de out. de 2008

Esperança desbotada


Hoje cheguei a uma conclusäo: as eleições emocionantes, apaixonantes, com cara de final de campeonato de futebol, acabaram. Nunca, em todos esses anos que voto, vi tamanha apatia nas ruas.
Não sei se foram as urnas eletrônicas, a caçada implacável a boca de urna ou, o mais óbvio de tudo: o desencanto total com a nossa ilustre classe política. Tudo que sei dizer é que muita coisa mudou desde da linda e emocionante eleição de 2000 aqui em Recife e não foi para melhor. Neste momento sinto uma nostalgia grande daquele dia, da felicidade que invadiu a cidade, de podermos acreditar que algo diferente iria acontecer. Se aconteceu é outra história, até porque não estou aqui para fazer apologia a partido f, l ou t.
Naqueles dias, para os que não se lembram, nós pudemos nos sentir, do mesmo modo que se sentiram os que assistiram o duelo de Davi e Golias. Toda a equipe do prefeito da época, que tentava a reeleição, aliás tentava não, porque tentativa é feita de erros e acertos e a tal equipe não via no que errar, acreditava piamente que estavam ali só para cumprir tabela. A arrogância era compatível com o ego e o valor da campanha.
Do outro lado tínhamos um candidato tímido, um pouco desajeitado dentro do terno que era um tanto quanto grande para ele e que resolveu entrar na batalha como pudesse e que iria lutar o quanto desse. E assim foi feito.
Primeiro turno: muitas bandeiras de Golias, boca de urna fardada, com chefe de setores, tudo pago, com direito a lanche e passagem. Do outro lado uma militância pobre comendo pippo´s, porém apaixonada, que apesar do que indicava as pesquisas era fiel a sua esperança. Mesmo que tudo terminasse naquele domingo, a militância teria ido até o fim. Votou-se. Apuração. Segundo turno. Epa! Segundo turno? Como assim? Aí queridos, a história mudou de figura. A militância que até então era serenamente solidária, tornou-se alucinada. Sabe como é: quando nada é certo, tudo é possível. Era tanta gente feliz, tanta gente na rua, tanta gente acreditando em um outro final, que aquilo contagiou a cidade e a pequena fagulha transformou-se em uma fogueira que foi vista pelos 4 cantos do país. A equipe de Golias não se preparou para o inesperado e isso a deixou atordoada. Era visível a sua postura de barata tonta.
Até aqui nada estava definido, acordamos naquele domingo sem saber o que o destino nos reservava. Isso sim é emoção. Posso rever meus passos na rua que me levava a minha seção eleitoral. Não precisa nem dizer que estava vestida com a cor do pequeno Davi. Ao passar por uma moça com uma grande bandeira adversária ouvi a seguinte pérola dela para um eleitor: "vá lá amigo, que hoje a noite vamos apagar essa estrela deles" hoje indo votar senti falta daquela provocação. Calma, já está terminando. Pois bem, fomos para casa e começa a apuraçao. Minha irmã Renata na casa dela, ligava-me a cada dois minutos e perguntava "e aí?, pois havia desligado a TV e o Rádio já que não aguentava a pressão. "Rê, Golias está na frente." "Rê, Davi passou" e assim foi durante umas 3 horas. Um sofrimento delicioso. Eu prefiro acreditar que tenha sido uma peça do destino, que sabe contar histórias como ninguém, mas o fato é que a apuração seguia apertada, apertada, apertada, até que de repente a cidade começou a pular, pular, pular, agora só faltava as urnas de Casa Amarela, bairro tradicionalmente militante do partido do pequeno Davi, que venceu pela diferença de 0.73%. O que se assistiu a seguir foi uma festa cívica linda. As pessoas estavam carregadas de esperanças e como é bom ter esperança. Recordo, com grande emoção, da alegria na voz da minha irmã. Ela foi juntar-se aos outros tantos sonhadores que invadiram o marco zero. Uma festa que varou a noite e que tinha tanto brilho que não apagou, mas com certeza ofuscou as estrelas.
Depois do que vi hoje, temo que nunca mais haja outra noite daquela.

Para Renata que é uma guardiã da esperança.

Provas

E assim acabou a semana de provas...



Será que esses homens de branco são um sinal sobre o meu futuro?????

Para todos os meus amigos do 2º NB, que foram os melhores companheiros de maratona que alguém pode ter.

28 de set. de 2008

Início da Semana de Provas


Amanhã começa a maratona de provas.
Esperem por mim na linha de chegada, ok?

24 de set. de 2008

I Have a Dream


“Tratar os iguais como iguais e os desiguais como desiguais, na medida de suas desigualdades”. Este é o conceito de Justiça Distributiva de Aristóteles, e é baseado nele que eu invoco um tratamento desigual para a minha desigualdade.
Nos últimos dias eu tenho tido um sonho, que está quase tão difícil de se tornar realidade quanto aquele do Reverendo Martin Luther King, se bem que o dele tinha um caráter universal e o meu pessoal, mas acho que sonhamos com a mesma intensidade. Tudo que eu sonho é conseguir encontrar e comprar um sapato e um cinto preto. Você deve estar pensando: "acho que ela tinha dois textos e resolveu recortar e colar um pedaço no outro e ficou estranho, ou ainda e mais coerentemente, finalmente os rapazes da camisa branca vão poder levá-la para uma temporada de repouso, pois com certeza ela está precisando." Calma! Não é nada disso, e agora vou defender as minhas idéias que até aqui parecem desconectadas.
Primeira parte. Aqueles que me conhecem há bastante tempo, sabem que nunca fui muito afeita a roupas chamativas, nem cores que me façam parecer uma escala pantone. Eu gosto do básico, do trivial simples, do que me dê a chance de desaparecer na multidão. Tenho medidas grandes, tudo em mim é grande e muito. Cabelos, boca, olhos, mãos, quadris, pés e por aí vai, sendo assim não há porque carregar nas cores. Eis os motivos.
Agora a segunda parte. Preciso comprar um sapato e um cinto, como dizem por aqui, mais alinhados. Quando eu me dei conta disso, já começou a me dar um certo aperto no coração, pois embora não compre essas coisas de moda, elas vivem passando na minha frente e baseado no que via sabia que a minha tarefa seria árdua. Ah esse meu sexto sentido, castigo de toda mulher, que nunca erra. Segui para onde tudo acontece nessa cidade, o Shopping Center Recife. Lembre-se do meu sonho: um sapato e um cinto preto, simples. Pois é, mas o óbvio e simples parecem inapropriados no mundo da moda e descobri isso da pior maneira possível. Nesta estação vivemos sob a égide do verniz. Tudo brilha, assim como os sapatos de Dorothy, na estrada dos tijolos amarelos. Agora você que me conhece, tenho cara de quem usa sapato de verniz? Sapato com fivelas de pedrinhas brilhantes? Será que terei de submeter-me a tal situação,porque a moda assim quer e assim devemos obedecer? Afinal, a liberdade de escolha não é um dos pilares dos mundo capitalista democrático?
Conclusão. Após rodar que nem uma roleta de cassino, no nosso sacro-santo Shopping Center, pude mais uma vez sentir na pele, nos pés e na cintura das minhas calças, que ainda por cima é baixa, que o mundo da moda é tudo, menos democrático. Que as diferenças devem ser mesmo é massacradas e que você deve estar sempre agradecido por ter alguém que decida o que você pode comprar, mesmo que o dinheiro seja seu.
Deixo aqui meu desabafo e aproveito para lançar a campanha: "por uma moda mais desigual"


Rubiane, de camisa hering e calça jeans.

PS: se alguém souber onde posso comprar coisas que não sejam de verniz ou de astronauta (prateado), em Recife, me avise.

Para Anabel, que apesar de estar sempre na moda, vai me levar a um porto seguro, onde eu possa comprar peças de indumentária, sem que para isso tenha que deixar de ser eu mesma.

19 de set. de 2008

Presente Régio



Faz um tempo que Flávio cismou que eu deveria ter um notebook. E se tem uma coisa que quando Flávio cisma é impossível demovê-lo, é sobre tecnologia. Ele simplesmente ama e acha que todos devemos amar da mesma forma e com a mesma intensidade.
E ele tanto fez, tanto falou, que eu, que até então achava que o tal do "computadorzinho" seria apenas mais um "pra que isso", acabei aceitando, gostando e querendo um notebook. Diante do meu desejo, ele como um príncipe de conto de fadas, buscou em todos os lugares o meu presente, um que fosse perfeito para mim. Logo no início da busca era um Asus, mas de repente apareceu o HP mininote 2133 e ele achou que esse sim combinava comigo.
Hoje o meu presente chegou e devo dizer, que ele realmente é lindo, digno de uma rainha, porque embora Flávio seja um príncipe, eu acho as princesas umas bobas.

14 de set. de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira.


Eu amo cinema. O lugar, as cadeiras, a expectativa antes do apagar das luzes, os traillers - esses eu amo em especial - o cheiro da pipoca e as sessões sem adolescentes, embora eu ame as que tem crianças, porque na maioria das vezes elas respeitam o sacro-santo espaço, além de saberem se emocionar como ninguém.

Hoje meu companheiro (forma politicamente correta de denominar o marido) me fez um convite-convocação para assistirmos o novo filme de Fernando Meirelles. Trata-se do Ensaio sobre a Cegueira, baseado no romance homônimo do escritor português José de Saramago. O filme é como um elefante: pesado, porém lindo.

Não vou falar aqui sobre o que vocês podem e devem assistir, mas quero dizer que morro de orgulho do Meirelles, da forma inteligente que ele colocou na tela uma das melhores histórias do século XX. A música do filme é uma história a parte, quem for assistir lembre-se do que eu digo quando as mulheres da ala 1, seguem em fila indiana para a ala 3.

A Julianne Moore está ainda mais fantástica que o habitual. A sua personagem tem sobre si a maldição de enxergar em um mundo de cegos, que abandonam as normas de conduta pela lei do mais forte. É a velha máxima encarnada : o que os olhos não vêem, o coração não sente, e o dela sente muito. Na sua beleza branca (ela é tão branca quanto a cegueira dos personagens) de heroína/mártir ela sofre e tenta sobreviver ao diabo. Saramago também nos mostra como é inerente à personalidade feminina a solidariedade, o amor e a defesa dos que ama.

No lançamento do livro Saramago disse:

"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."

Mas mesmo assim, eu recomendo.

5 de set. de 2008

Ah, minhas sobrancelhas...

Certo dia, quando eu era criança, resolvi raspar as minhas sobrancelhas (sim, eu também fiz peraltices). Pronto! Foi a conta! Elas que nunca foram muito domesticadas, ressurgiram como verdadeiras taturanas de fogo arrepiadas. Elas são grossas, por natureza e despenteadas por opção.
Na infância, tal característica é engraçada, mas ao passarmos para a adolescência começamos a ouvir a mesma coisa em de várias bocas, como se estivéssemos em um episódio do "além da imaginação": "tuas sobrancelhas são lindas, só precisas limpar estes cantinhos aqui..." - parecia comercial de faxina. Até que um dia, eu resolvi atender as vozes. Para que?! Que coisa dolorosa é a tal do "fazer as sobrancelhas". Aquilo é uma tortura. Mesmo não sendo um poço de vaidades, admito que ao "limpar" os tais cantinhos meu visual melhora bastante. Por isso, uma vez a cada 30 dias (deveria ser 21) eu sigo para o meu cadafalso, a clínica de estética Maura Sobrancelhas. Lá as meninas nos tratam com todo o carinho possível e imaginável, mas mesmo assim doí muito. Tenho vontade de me atirar através daquela parede vidro, subir pelo muro e sumir por cima dos telhados da vizinhança, como nos filmes italianos. No entanto o resultado vale a pena e é por isso que resisto bravamente aos meus instintos de fuga, como os que me acometeram na última terça-feira.

Leitura da Semana


"Já tens água demais, pobre Ofélia! Eis porque contenho minhas lágrimas. Ainda assim, é uma necessidade humana; nossa natureza as reclama, embora a vergonha não cesse de protestar. Quando esse pranto cessar, tudo que em mim houver de feminino terá acabado."

Hamlet IV,VII

30 de ago. de 2008

Cartões-Postais



Ontem quando cheguei em casa, tive a grata surpresa de encontrar entre as minhas correspondências um cartão-postal que me foi enviado por Rui David e Rosana, diretamente do museu de Anne Frank, na Holanda. Embora ache a internet o máximo com seu acesso rápido, tem uma coisa que ela não consegue nos dar ainda, a alegria de um bom e velho cartão-postal. O cartão-postal é como uma declaração de carinho pessoal e intransferível. Primeiro você conhece o lugar e ao conhecê-lo, você lembra de alguém, que muito provavelmente seria excelente companhia para aquela descoberta, então pensa: "pôxa, fulano adoraria esse lugar" ou ainda "nossa, esse lugar é a cara de beltrano" e como querendo compartilhar a emoção que sentiu, resolve mandar para a tal pessoa um pedacinho daquele momento. Aí vem a outra parte, que por incrível que parece, é ainda mais legal: achar um cartão exato, isso é, que mostre algo realmente significativo para aquele amigo em especial, escolher o selo, escrever no lugar onde o carimbo não impeça a leitura etc. E nesses detalhes , modéstia a parte, eu sou muito exigente. Na nossa última viagem não houve um cartão-postal repetido dos quase 40 que enviei. Como iria a vários destinos, escolhi as cidades que mais se pareceria com cada um dos destinatários. Ao enviar um cartão-postal você está dizendo: "olha estou muito feliz, e nessa felicidade toda lembrei de você". João, meu afilhado amado, ficou muito empolgado, pois foram os seus primeiros cartões-postais, e talvez por isso mesmo, esperava o seguinte como quem espera papai noel às vésperas do Natal. Já Cyane achou lindo eu resgatar uma velha tradição dos viajantes. Tradição esta que está sucumbindo devido aos e-mails que passamos das lan-houses quando estamos viajando. No que depender de mim, esta tradição permanecerá por muito e muito tempo, pois onde houver um cartão-postal e um posto de correios, eu e minha caneta bic estaremos lá.

Para João, o meu maior incentivador do envio de cartões-postais.

19 de ago. de 2008

Boneca de porcelana despedaçada.


Ao ver a muralha emocional da pequena Fei Cheng ser minada por suas lágrimas de tristeza e se desfazer como um castelo de cartas, durante a prova de solo, senti vontade de colocá-la no colo. Naquele momento, ela representava todos os sonhos desfeitos e todo o peso das cobranças sobre os nossos pequenos ombros. Embora o estádio, num momento de ternura coletiva a tenha ovacionado, ela sabia que depois dali estaria sozinha com o seu fracasso. Seu lindo rosto de porcelana era marcado por lágrimas amargas que representavam os sacrifícios a que havia se submetido, desde sempre e que naquele pouco mais de um minuto, por causa de um tropeço foram aniquilados. Para ser atleta de ginástica tem de ser graciosa e isso inclui sorrir. Eu a vi sorrir pouco, mas a vi chorar muito naquele dia, talvez porque aquele sorriso seja obrigação da atleta, mas essas lágrimas eram exclusivamente do ser humano. A dor daquela garota nos iguala todos diante dos nossos fracassos, dos nossos sonhos desfeitos, da nossa imperfeição. A pequena boneca de porcelana, não ganhou a medalha tão sonhada, mas nos mostrou que é possível tornar o perfeito em humano. Esse é seu legado para o mundo.

Para Rosana e Fernanda Camargo, que como Fei Cheng, um dia sonharam que poderiam voar.

16 de ago. de 2008

Vilões



Em 1977 eu tinha 6 anos de idade. Aquele ano teve alguns marcos, tipo a minha hepatite, que me obrigou a comer uma comida horrorosa sem gordura (arroz branco e bifes que pareciam ter saido de um pedaço de pneu) e sem molho algum. As pessoas achavam um sofrimento ver uma garotinha tão magrinha (sim eu já fui caniço, antes de virar samburá) passar por aquela dieta infame e presenteavam-me com doces, que é o alimento ideal para quem está doente de hepatite. A nossa querida vizinha do 903, Dona Maria José (esse nome me causava tanto conflito intelectual - como uma mulher pode ter nome de homem?), fazia a cada dois dias doce de goiaba especialmente para mim, enquanto outros solidários mandavam-me suspiros. Hoje passados muitos anos posso agradecer e confessar, que nunca fui muito fã de doce, nem quando era criança (outra esquisitice) e que quem realmente lucrou com a minha doença, foram minhas irmãs, que comiam trancadas na cozinha a comida que eu desejava e ainda ficavam com as sobremesas. A hepatite ainda tirou a minha festa de 6 anos de idade, pois, obviamente, não haveria festa na situação em que eu me encontrava.
Mas voltando ao que me trouxe aqui, houve outros dois acontecimentos que, realmente, ficaram tatuados no tecido da minha história. Naquele ano eu conheci Darth Vader e Malévola. Um vinha da Ficção Científica de uma galáxia distante, provavelmente em algum lugar do futuro e a outra vinha da Europa durante a Idade Média. Um era homem e a outra mulher. Um queria dominar o universo, a outra queria se vingar de não ter sido convidada para o batizado da princesa Aurora que iria se transformar na bela donzela Rosa (chata de doer). Um tinha um séquito de soldados brancos que o seguia como cães fiéis, a outra tinha um corvo que era inteligente como um cão. Um morava na nave espacial Estrela da Morte (olha a imponência do nome da casa do rapaz), a outra em um castelo medieval aterrorizador no alto de uma montanha. Mas o que mais me impressionava era o que realmente eles tinham em comum, a presença de cena. Não havia herói que preenchesse a tela daquela forma. O que era aquela arqueada de sobrancelha da Malévola ou a respiração de Darth Vader? O que eram aquelas capas, aquelas roupas pretas ou a elegância de se movimentar daqueles dois?!
Até hoje sou apaixonada por vilões, mas os que moram no mundo da literatura e dramaturgia. Acho que no fundo eu os admiro por terem atravessado a linha da sanidade e de lá acenar para nós, livres como pássaros. Embora eu me considera uma "mocinha", preciso sempre dizer que sem os vilões, os heróis e heroínas, nada mais teriam que uma vivência sem graça. Então em nome dos mocinhos, eu agradeço aos vilões por fazer nossa vida tão divertida.

13 de ago. de 2008

Eu gosto mesmo é de chuva!


Eu tenho certas características em minha personalidade que são um pouco fora do senso comum. Poderia discorrer sobre várias delas neste momento, mas acho melhor introduzir vocês as minhas loucuras cotidianas em doses homeopáticas, caso contrário posso começar a ser vista como uma criatura apta a usar camisa branca, com enooooorme mangas compridas e que fecha atrás.

Quando acordo pela manhã, corro para a varanda e se encontro um céu cinza chumbo, tipo um bulldog carrancudo, abro um sorriso maior que o sol. Sei que o dia vai ser proveitoso, que não serei uma chaleira quente, que calçarei minhas botas de trilha com minhas meias de dedinho e que poderei usar um dos meus guarda-chuvas, que aliás é outra coisa que não perco, assim como as canetas BIC. Por falar em guarda-chuva, minha amada irmã caçula certa vez viajou de Portugal aqui com uma sombrinha transparente na mão, porque eu sonhava com uma. Isso faz uns 5 anos e a mesma está aqui em casa sã e salva, nada de departamentos de achados e perdidos.

Outra coisa que eu gosto nos dias de chuva é a ausência de calor. Esse negócio de gostar de calor é coisa de quem optou por sofrer. Que graça tem está sempre suando e usando as mãos para se abanar. Não entendo a felicidade disso.

Chuva tem barulhinho bom, tem cheiro bom, tem comida boa. Quem já ouviu falar em bolinho de sol, mas bolinho de chuva todo mundo conhece. Chuva tem cara de conforto, de noite bem dormida, de pijama cheiroso, de cama gostosa. Além de ser um sossego para maioria das famílias, pois em noite de chuva todo mundo fica em casa e assim o sono dos pais está garantido pela chuva que lava o mundo.

Há um cenário teatral na chuva. O vento é o corpo de baile que faz os pingos dançarem no ar, os raios são a iluminação do palco e os trovões a grande sinfonia de sons graves que rasgam o céu. Como eu gosto de chuva. Infelizmente já estamos em metade de Agosto e as chuvas estão indo embora. Daqui a pouco estaremos, novamente, sob o céu azul sem nuvens, que na minha opinião, de nada nos protege.

Este texto é dedicado a Dona Celina, que me ensinou a amar a chuva, e que até hoje fica no meio do terreiro do sítio onde mora, deixando as primeiras chuvas de Março a molharem, como um filhote que é banhado pela mãe.

12 de ago. de 2008

Leia o bilhete

Apresentação

Entre as coisas de minha história de que, realmente, me orgulho está o fato de ter aprendido a escrever muito cedo. Na envergadura dos meus 5 anos, já escrevia e lia muito bem. De certo havia determinadas dúvidas, tipo: - "mãe, essa palavra é com" c" de casa ou "c " de sapo?" coisas do método montessoriano, a quem sou eternamente grata. Obrigado Tia Lise.

Lógico que nem tudo foram flores: cadernos de caligrafia, cópias intermináveis, ditados, mas como diz o poeta maior: "tudo vale a pena, quando a alma não é pequena".

A grande revolução deu-se na 4ª série. (não sei qual a nova nomenclatura para o último ano primário), quando pudemos começar a escrever de caneta. Nessa época chegou ao Brasil umas canetas cheirosas, cor-de-rosa, com bonequinhos e tudo mais. Eu até tive umas dessas, mas sempre amei a tal da caneta BIC. Eu as compro de montão. E pasmem, eu sou talvez o único ser humano que você conhece que as usa até o fim. Isso mesmo, eu termino uma BIC e como se não bastasse com tampa e sem nenhuma mordida nela.

Também adoro blocos, cadernos, papéis de carta (não aqueles cheio de desenhos,mas os clássicos, com linhas bem claras e uma gramatura bem fina, que faz um barulhinho de papel de bala), também escrevo em guardanapos, caixinhas de remédios e até em papel de pão, embora esse seja cada dia mais raro.

Então como um bilhete que se deixa para alguém que se ama cotidianamente, deixo para vocês os meus escritos feitos com uma caneta bic num papel de pão.

Um grande beijo

Rubiane