30 de ago. de 2008

Cartões-Postais



Ontem quando cheguei em casa, tive a grata surpresa de encontrar entre as minhas correspondências um cartão-postal que me foi enviado por Rui David e Rosana, diretamente do museu de Anne Frank, na Holanda. Embora ache a internet o máximo com seu acesso rápido, tem uma coisa que ela não consegue nos dar ainda, a alegria de um bom e velho cartão-postal. O cartão-postal é como uma declaração de carinho pessoal e intransferível. Primeiro você conhece o lugar e ao conhecê-lo, você lembra de alguém, que muito provavelmente seria excelente companhia para aquela descoberta, então pensa: "pôxa, fulano adoraria esse lugar" ou ainda "nossa, esse lugar é a cara de beltrano" e como querendo compartilhar a emoção que sentiu, resolve mandar para a tal pessoa um pedacinho daquele momento. Aí vem a outra parte, que por incrível que parece, é ainda mais legal: achar um cartão exato, isso é, que mostre algo realmente significativo para aquele amigo em especial, escolher o selo, escrever no lugar onde o carimbo não impeça a leitura etc. E nesses detalhes , modéstia a parte, eu sou muito exigente. Na nossa última viagem não houve um cartão-postal repetido dos quase 40 que enviei. Como iria a vários destinos, escolhi as cidades que mais se pareceria com cada um dos destinatários. Ao enviar um cartão-postal você está dizendo: "olha estou muito feliz, e nessa felicidade toda lembrei de você". João, meu afilhado amado, ficou muito empolgado, pois foram os seus primeiros cartões-postais, e talvez por isso mesmo, esperava o seguinte como quem espera papai noel às vésperas do Natal. Já Cyane achou lindo eu resgatar uma velha tradição dos viajantes. Tradição esta que está sucumbindo devido aos e-mails que passamos das lan-houses quando estamos viajando. No que depender de mim, esta tradição permanecerá por muito e muito tempo, pois onde houver um cartão-postal e um posto de correios, eu e minha caneta bic estaremos lá.

Para João, o meu maior incentivador do envio de cartões-postais.

19 de ago. de 2008

Boneca de porcelana despedaçada.


Ao ver a muralha emocional da pequena Fei Cheng ser minada por suas lágrimas de tristeza e se desfazer como um castelo de cartas, durante a prova de solo, senti vontade de colocá-la no colo. Naquele momento, ela representava todos os sonhos desfeitos e todo o peso das cobranças sobre os nossos pequenos ombros. Embora o estádio, num momento de ternura coletiva a tenha ovacionado, ela sabia que depois dali estaria sozinha com o seu fracasso. Seu lindo rosto de porcelana era marcado por lágrimas amargas que representavam os sacrifícios a que havia se submetido, desde sempre e que naquele pouco mais de um minuto, por causa de um tropeço foram aniquilados. Para ser atleta de ginástica tem de ser graciosa e isso inclui sorrir. Eu a vi sorrir pouco, mas a vi chorar muito naquele dia, talvez porque aquele sorriso seja obrigação da atleta, mas essas lágrimas eram exclusivamente do ser humano. A dor daquela garota nos iguala todos diante dos nossos fracassos, dos nossos sonhos desfeitos, da nossa imperfeição. A pequena boneca de porcelana, não ganhou a medalha tão sonhada, mas nos mostrou que é possível tornar o perfeito em humano. Esse é seu legado para o mundo.

Para Rosana e Fernanda Camargo, que como Fei Cheng, um dia sonharam que poderiam voar.

16 de ago. de 2008

Vilões



Em 1977 eu tinha 6 anos de idade. Aquele ano teve alguns marcos, tipo a minha hepatite, que me obrigou a comer uma comida horrorosa sem gordura (arroz branco e bifes que pareciam ter saido de um pedaço de pneu) e sem molho algum. As pessoas achavam um sofrimento ver uma garotinha tão magrinha (sim eu já fui caniço, antes de virar samburá) passar por aquela dieta infame e presenteavam-me com doces, que é o alimento ideal para quem está doente de hepatite. A nossa querida vizinha do 903, Dona Maria José (esse nome me causava tanto conflito intelectual - como uma mulher pode ter nome de homem?), fazia a cada dois dias doce de goiaba especialmente para mim, enquanto outros solidários mandavam-me suspiros. Hoje passados muitos anos posso agradecer e confessar, que nunca fui muito fã de doce, nem quando era criança (outra esquisitice) e que quem realmente lucrou com a minha doença, foram minhas irmãs, que comiam trancadas na cozinha a comida que eu desejava e ainda ficavam com as sobremesas. A hepatite ainda tirou a minha festa de 6 anos de idade, pois, obviamente, não haveria festa na situação em que eu me encontrava.
Mas voltando ao que me trouxe aqui, houve outros dois acontecimentos que, realmente, ficaram tatuados no tecido da minha história. Naquele ano eu conheci Darth Vader e Malévola. Um vinha da Ficção Científica de uma galáxia distante, provavelmente em algum lugar do futuro e a outra vinha da Europa durante a Idade Média. Um era homem e a outra mulher. Um queria dominar o universo, a outra queria se vingar de não ter sido convidada para o batizado da princesa Aurora que iria se transformar na bela donzela Rosa (chata de doer). Um tinha um séquito de soldados brancos que o seguia como cães fiéis, a outra tinha um corvo que era inteligente como um cão. Um morava na nave espacial Estrela da Morte (olha a imponência do nome da casa do rapaz), a outra em um castelo medieval aterrorizador no alto de uma montanha. Mas o que mais me impressionava era o que realmente eles tinham em comum, a presença de cena. Não havia herói que preenchesse a tela daquela forma. O que era aquela arqueada de sobrancelha da Malévola ou a respiração de Darth Vader? O que eram aquelas capas, aquelas roupas pretas ou a elegância de se movimentar daqueles dois?!
Até hoje sou apaixonada por vilões, mas os que moram no mundo da literatura e dramaturgia. Acho que no fundo eu os admiro por terem atravessado a linha da sanidade e de lá acenar para nós, livres como pássaros. Embora eu me considera uma "mocinha", preciso sempre dizer que sem os vilões, os heróis e heroínas, nada mais teriam que uma vivência sem graça. Então em nome dos mocinhos, eu agradeço aos vilões por fazer nossa vida tão divertida.

13 de ago. de 2008

Eu gosto mesmo é de chuva!


Eu tenho certas características em minha personalidade que são um pouco fora do senso comum. Poderia discorrer sobre várias delas neste momento, mas acho melhor introduzir vocês as minhas loucuras cotidianas em doses homeopáticas, caso contrário posso começar a ser vista como uma criatura apta a usar camisa branca, com enooooorme mangas compridas e que fecha atrás.

Quando acordo pela manhã, corro para a varanda e se encontro um céu cinza chumbo, tipo um bulldog carrancudo, abro um sorriso maior que o sol. Sei que o dia vai ser proveitoso, que não serei uma chaleira quente, que calçarei minhas botas de trilha com minhas meias de dedinho e que poderei usar um dos meus guarda-chuvas, que aliás é outra coisa que não perco, assim como as canetas BIC. Por falar em guarda-chuva, minha amada irmã caçula certa vez viajou de Portugal aqui com uma sombrinha transparente na mão, porque eu sonhava com uma. Isso faz uns 5 anos e a mesma está aqui em casa sã e salva, nada de departamentos de achados e perdidos.

Outra coisa que eu gosto nos dias de chuva é a ausência de calor. Esse negócio de gostar de calor é coisa de quem optou por sofrer. Que graça tem está sempre suando e usando as mãos para se abanar. Não entendo a felicidade disso.

Chuva tem barulhinho bom, tem cheiro bom, tem comida boa. Quem já ouviu falar em bolinho de sol, mas bolinho de chuva todo mundo conhece. Chuva tem cara de conforto, de noite bem dormida, de pijama cheiroso, de cama gostosa. Além de ser um sossego para maioria das famílias, pois em noite de chuva todo mundo fica em casa e assim o sono dos pais está garantido pela chuva que lava o mundo.

Há um cenário teatral na chuva. O vento é o corpo de baile que faz os pingos dançarem no ar, os raios são a iluminação do palco e os trovões a grande sinfonia de sons graves que rasgam o céu. Como eu gosto de chuva. Infelizmente já estamos em metade de Agosto e as chuvas estão indo embora. Daqui a pouco estaremos, novamente, sob o céu azul sem nuvens, que na minha opinião, de nada nos protege.

Este texto é dedicado a Dona Celina, que me ensinou a amar a chuva, e que até hoje fica no meio do terreiro do sítio onde mora, deixando as primeiras chuvas de Março a molharem, como um filhote que é banhado pela mãe.

12 de ago. de 2008

Leia o bilhete

Apresentação

Entre as coisas de minha história de que, realmente, me orgulho está o fato de ter aprendido a escrever muito cedo. Na envergadura dos meus 5 anos, já escrevia e lia muito bem. De certo havia determinadas dúvidas, tipo: - "mãe, essa palavra é com" c" de casa ou "c " de sapo?" coisas do método montessoriano, a quem sou eternamente grata. Obrigado Tia Lise.

Lógico que nem tudo foram flores: cadernos de caligrafia, cópias intermináveis, ditados, mas como diz o poeta maior: "tudo vale a pena, quando a alma não é pequena".

A grande revolução deu-se na 4ª série. (não sei qual a nova nomenclatura para o último ano primário), quando pudemos começar a escrever de caneta. Nessa época chegou ao Brasil umas canetas cheirosas, cor-de-rosa, com bonequinhos e tudo mais. Eu até tive umas dessas, mas sempre amei a tal da caneta BIC. Eu as compro de montão. E pasmem, eu sou talvez o único ser humano que você conhece que as usa até o fim. Isso mesmo, eu termino uma BIC e como se não bastasse com tampa e sem nenhuma mordida nela.

Também adoro blocos, cadernos, papéis de carta (não aqueles cheio de desenhos,mas os clássicos, com linhas bem claras e uma gramatura bem fina, que faz um barulhinho de papel de bala), também escrevo em guardanapos, caixinhas de remédios e até em papel de pão, embora esse seja cada dia mais raro.

Então como um bilhete que se deixa para alguém que se ama cotidianamente, deixo para vocês os meus escritos feitos com uma caneta bic num papel de pão.

Um grande beijo

Rubiane