31 de mai. de 2009

O bicho papão da semana de provas vai te pegar.

Madrugada de sexta-feira, 29 de maio de 2009.

No quarto escuro Flávio ouve, em alto e bom som, o seguinte trecho de um diálogo, que eu travava com alguém em meus sonhos:

"- Não! Isso é processual. Nem coloque na sua cabeça."

Será que a semana de provas chegou, hem?

21 de mai. de 2009

Porque a beleza está nos olhos de quem vê.



A vida tem caminhos estranhos para nos levar onde devemos ir. Por vezes rebelamo-nos, arranjamos atalhos, sentamos a beira da estrada e fingimos que nada mais vai acontecer. Mas o destino não se importa e sorrateiramente nos guia, como um cão pastor, sem que percebamos para onde realmente estamos indo. Quando vemos, atravessamos o caminho, seja pela estrada, seja pelo acostamento, seja nos arrastando ou caminhando de boa vontade, mas sempre vamos encontrar o que nos é devido.

Essa breve introdução é para falar do filme Departures, Partidas em português, produção japonesa vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro, não que ganhar o Oscar seja a coisa mais importante sobre essa película, mas, infelizmente, acho que ele só se tornará conhecido devido essa nova etiqueta: ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Posso garantir que ele é muito mais do que isso.

O filme se passa em uma cidade do interior do Japão. O jovem Daigo Kobayashi estava realizando seu sonho de ser violoncelista de uma orquestra sinfônica em Tóquio, até que um dia, assim como por encanto, a orquestra foi desfeita e ele se viu diante da necessidade de voltar para a sua cidade natal, a tal do interior. Sem emprego, ele começa a procurar no classificados uma nova ocupação. Eis que surge uma vaga em uma agência de viagens. Ele segue para a entrevista e então começa a aventura.

O personagem arranja um emprego em uma agência de acondicionamento e não de viagens. Acondicionamento? Sim! O trabalho dele é acondicionar os mortos em seus caixões, mas antes deverá fazer a cerimônia de limpeza dos corpos e deixá-los o mais belos possível para que essa seja a última imagem que a família tenha deles, antes de sua derradeira partida. Entenda, trata-se de uma tradição japonesa, por isso mesmo, acho que a maioria dos que assiste se choca com o que vê. Mas com o desenrolar do filme, você começa a ver a beleza daquele ritual feito de silêncio, respeito e saudade. Como tudo que é oriental, cada movimento tem sua função e uma homenagem, ao morto e a sua família. Belo, muito belo.

Mas o que isso tem a ver com a introdução? O jovem Daigo deve percorrer um caminho tortuoso para acertar as contas com os fantasmas do seu passado e finalmente seguir em paz para o seu futuro. Os conflitos do mundo exterior, da intolerância social à função que ele abraçou sem muita vontade inicialmente , também nos deixa aprisionados ao filme. Atenção especial ao chefe de Daigo, o Senhor Sasaki. Ele é prático, seco, mas sem perder o olhar solidário diante da dor de quem sofre.

Tudo é uma questão de como estamos dispostos a ver os fatos da vida e com a morte não poderia ser diferente. Sua presença real e absoluta foi vista de uma forma tão bela, pelo diretor desta obra, que nos faz pensar que realmente trata-se apenas de uma partida para um lugar muito melhor.

12 de mai. de 2009

Uma noite inesquecível, quem me dera puder esquecê-la.



Clarice com 2.700g e um tamaninho de nada é a nova integrante da família Costa. Chegou no último dia 03 e já causou uma revolução. Parece ser bastante vaidosa, pois 5 dias após seu nascimento voltou para o hospital a fim de fazer bronzeamento artificial - na realidade ela tinha icterícia, mas precisamos encarar as coisas com humor, não é mesmo? A pequena Clarice é muito miúda e fora o bronzeamento não tem material, ainda, para uma postagem, portanto sigamos.

Eu vou contar aqui sobre a noite em que Clarice nasceu e como isso afetou as nossas vidas. Os pais foram para a maternidade e Pedro Miguel precisou dormir aqui em casa. Confesso que esperava um chororó sem fim, algo tipo: "eu quero a minha mãe", durante a madrugada, mas ele surpreendeu a todos, comportando-se como um viajante habitual muito bem instalado em qualquer hotel, albergue ou pousada. Assistiu filmes, passeou pela casa com desenvoltura e obviamente, resistiu com bravura ao sono, mas este o venceu.

Quando o coloquei em minha cama, imaginei na minha inocência de tia sem filhos, que com sorte ele não acordaria antes das 06h e portanto teríamos uma noite tranquila. De fato ele não acordou, no entanto, nem eu, nem Flávio dormimos.

Ocorre que o nosso querido afilhado caçula, não é cheio de energia apenas enquanto está acordado. Não! Ele não tem a opção desligar. Sua energia é constante e ele barbariza, também, enquanto dorme: fala, senta, chuta, gira na cama e deixa os não avisados de olhos bem abertos.

A certa altura desta noite de terror, a voz de trovão de Flávio implorou-me para trocarmos de lugar, pois ele dormia, ou tentava dormir na cama onde Pedro estava. Queria trocar, porque estava equilibrando-se em cima da costura do colchão, o pezinho esquerdo de Pedro Miguel estava em suas costas e a mãozinha em seu rosto, ali pousada tranquilamente depois de dar uns vários tapões na cara do tio. Eu senti uma profunda empatia pela sua agonia, mas fui logo acabando com as suas esperanças dizendo: "não adianta, porque o barulho que ele faz falando e mexendo-se na cama, não me deixava dormir e o meu colchão é duro como madeira de lei, portanto conforme-se com a sua linha da costura do colchão e continue equilibrado nela, que pelo menos é macia."

Antes das 6 horas, ele sentou-se na cama e foi quando o padrinho cometeu o erro fatal - abriu os olhos. Na penumbra do quarto, só se ouvia aquela vozinha linda e de pronúncia muito clara: Acordou, tio Flavinho? Não posso negar que o achei por demais irônico para os seus 2 anos e 5 meses. Como poderia tio Flavinho ter acordado , se sequer havia dormido? Em seguida perguntou onde estavam todos: a mãe, o pai, eu - que respondi com uma voz cansada: "aqui Pedro Miguel, aqui" - e pela avó que havia passado uma noite esplendorosa no outro quarto e que ele quis ver imediatamente. Com seus pequenos passos, passou por cima de mim, de Flávio e seguiu porta a fora, para alimentar o dia com toda sua energia, conseguida, é óbvio, através de seu sono revigorante.

Na noite seguinte éramos eu e Flávio dois zumbis, mas havia no meu rosto um certo sorriso, digamos que maquiavélico, pensando nas próximas vítimas daquele pequeno personagem de história de terror que não deixa ninguém dormir.

Na marca do penalti


Deixa eu contar algo que aconteceu no carnaval ainda. Vamos nos esforçar e esquecer a linha do tempo, ok?

Rafael veio passar o Carnaval comigo e trouxe a querida Thais. Um certo dia estavámos aqui em casa, enquanto eles descansavam entre uma folia e outra e Flávio sugeriu que jogassem futebol no playstation. Rafa, corintiano fanático escolheu o time do Parque São Jorge e Flávio, se não me engano, uma seleção africana. Não sei quem ganhou ou quem perdeu. Só sei que Rafael vibrava como se estivesse realmente no Pacaembu.

De repente eu senti vontade de mais uma vez tripudiar sobre esse alvinegro e disse: Agora eu e você, Rafa. Eu não entendo nada do joguinho. Os meus lances são os mais bizarros possíveis, mas eu queria provocar o Rafa naquilo que ele mais ama: o Corinthians. Começa a escolha dos times, eu escolhi o São Paulo Futebol Clube que durante muitos anos foi o grande carrasco dos manos e ele, obviamente, foi procurar o time dele. Então iniciou-se a minha alegria , o meu estava no elenco do Brasileirão e o dele na segunda divisão. Rafa, devo dizer que vocês podem não ter consagrado-se os melhores do mundo ou tricampeões do Brasileirão, mas tem, com certeza, um título inédito para nós, Campeões da Série B. Ironia, tudo é ironia...

O árbitro apita o inicio da partida, eu sequer sabia quais eram os meus jogadores, mexia no controle (joystick) aleatoriamente. Só dava chutão para frente, isto porque Flávio gritava: chuta! Os corintianos orquestrado por Mano Rafael iam até o gol constantemente, mas mesmo no Fifa Soccer, o Rogério Ceni defende todas. E assim terminou o primeiro tempo. As torcidas gritavam os seus gritos de guerra e o que iniciou-se como uma brincadeira, foi tornando-se o momento mais expressivo daqueles dias do reinado de Momo. Daqui a pouco aquilo era o jogo da minha vida. A defesa tricolor era uma muralha intransponível que o time de Rafael tentava em vão invadir. Houve um penalti contra nós, mas o Rogério, sempre o Rogério, o defendeu. Na cadeiras - leia-se sofá - Thais, tenho certeza, ficava aliviada cada vez que os meus jogadores defendiam a ofensiva de Rafael, mas essa é uma certeza que tenho só para mim. Flávio sentado na Geral - leia-se chão - com os olhos vidrados e eu pedindo a Deus apenas mais uns momentinhos, para decidirmos tudo nos penaltis. Não me lembro se houve prorrogação, a adrenalina era tamanha que eu só vejo flashes de tudo. Recordo-me apenas de dizer: o Ceni vai decidir tudo, ele vai defender e vai bater o gol que vai nos dar o título. O Rafa dizia: "aquele frangueiro". A torcida sãopaulina virtual invadia os meus ouvidos com seu grito de guerra enaltecendo o arqueiro,e eu no fundo só não queria perder para o Rafa. Sei que o empate persistiu e sendo assim penaltis. Aí eu tinha que escolher quem bateria. Coloquei o Borges, o Dagoberto e mais outros dois e por fim o Ceni.

O batedor do Rafa parecia ter como ídolo Roberto Baggio e chutou para fora por cima da trave. Rafa xinga e eu solto um suspiro aliviado. O meu batedor coloca nas mãos do Felipe. Tudo igual. O batedor do Rafa converte, e ele parece ter ganho na mega sena acumulada de dez anos. Outro tricolor bate e converte. Rafael xinga e eu fico em silêncio. O meu pensamento só dizia: não posso perder para o Rafa, para o Ibis, mas não para o Rafa. Terceiro chute dos Corintianos: pra foooooooooooooooora.

Daqui já não me lembro o que aconteceu direito, só sei que o último tiro seria do Ceni e se ele convertesse seríamos campeões daquela partidinha no sofá da sala, com duas testemunhas. Mas o que eles viram não foi quem ganhou ou quem perdeu, eles viram a mim e ao Rafa celebrarmos a nossa amizade, dessas e de outras vidas, rindo das nossas desgraças e adorando dividir aquele momento mágico. Éramos duas crianças impulsionadas pela rivalidade fraternal.

Agora eu estou na marca do penalti, e você em apnéia, daqui posso ouvir a batida do seu coração, esperando pelo desfecho dessa história, mas eu não vou chutar, ou melhor, contar quem ganhou e quem perdeu, porque o que aconteceu naquela sala, ficou naquela sala. O que realmente importa é que eu e meu amigo, dessa e de outras vidas, pudemos compartilhar um momento da nossa infância não vivida e que eu adorei.

Para Thais e Flávio que testemunharam a nossa velha infância.

Papel de pão e caneta bic na mão



Eu pensei em mais uma vez explicar a minha ausência. Falar das minhas mil e uma atividades e da falta de inspiração para escrever. Mas aí me lembrei de uma frase que sempre digo para aqueles que reclamam das mil e uma coisas que arranjam para fazer porque querem: "quem corre por gosto, não cansa". Então pouco importa se eu tenho ou não tempo e disposição, compromisso assumido e compromisso cumprido. Portanto, papel de pão e caneta bic na mão.