12 de mai. de 2009

Na marca do penalti


Deixa eu contar algo que aconteceu no carnaval ainda. Vamos nos esforçar e esquecer a linha do tempo, ok?

Rafael veio passar o Carnaval comigo e trouxe a querida Thais. Um certo dia estavámos aqui em casa, enquanto eles descansavam entre uma folia e outra e Flávio sugeriu que jogassem futebol no playstation. Rafa, corintiano fanático escolheu o time do Parque São Jorge e Flávio, se não me engano, uma seleção africana. Não sei quem ganhou ou quem perdeu. Só sei que Rafael vibrava como se estivesse realmente no Pacaembu.

De repente eu senti vontade de mais uma vez tripudiar sobre esse alvinegro e disse: Agora eu e você, Rafa. Eu não entendo nada do joguinho. Os meus lances são os mais bizarros possíveis, mas eu queria provocar o Rafa naquilo que ele mais ama: o Corinthians. Começa a escolha dos times, eu escolhi o São Paulo Futebol Clube que durante muitos anos foi o grande carrasco dos manos e ele, obviamente, foi procurar o time dele. Então iniciou-se a minha alegria , o meu estava no elenco do Brasileirão e o dele na segunda divisão. Rafa, devo dizer que vocês podem não ter consagrado-se os melhores do mundo ou tricampeões do Brasileirão, mas tem, com certeza, um título inédito para nós, Campeões da Série B. Ironia, tudo é ironia...

O árbitro apita o inicio da partida, eu sequer sabia quais eram os meus jogadores, mexia no controle (joystick) aleatoriamente. Só dava chutão para frente, isto porque Flávio gritava: chuta! Os corintianos orquestrado por Mano Rafael iam até o gol constantemente, mas mesmo no Fifa Soccer, o Rogério Ceni defende todas. E assim terminou o primeiro tempo. As torcidas gritavam os seus gritos de guerra e o que iniciou-se como uma brincadeira, foi tornando-se o momento mais expressivo daqueles dias do reinado de Momo. Daqui a pouco aquilo era o jogo da minha vida. A defesa tricolor era uma muralha intransponível que o time de Rafael tentava em vão invadir. Houve um penalti contra nós, mas o Rogério, sempre o Rogério, o defendeu. Na cadeiras - leia-se sofá - Thais, tenho certeza, ficava aliviada cada vez que os meus jogadores defendiam a ofensiva de Rafael, mas essa é uma certeza que tenho só para mim. Flávio sentado na Geral - leia-se chão - com os olhos vidrados e eu pedindo a Deus apenas mais uns momentinhos, para decidirmos tudo nos penaltis. Não me lembro se houve prorrogação, a adrenalina era tamanha que eu só vejo flashes de tudo. Recordo-me apenas de dizer: o Ceni vai decidir tudo, ele vai defender e vai bater o gol que vai nos dar o título. O Rafa dizia: "aquele frangueiro". A torcida sãopaulina virtual invadia os meus ouvidos com seu grito de guerra enaltecendo o arqueiro,e eu no fundo só não queria perder para o Rafa. Sei que o empate persistiu e sendo assim penaltis. Aí eu tinha que escolher quem bateria. Coloquei o Borges, o Dagoberto e mais outros dois e por fim o Ceni.

O batedor do Rafa parecia ter como ídolo Roberto Baggio e chutou para fora por cima da trave. Rafa xinga e eu solto um suspiro aliviado. O meu batedor coloca nas mãos do Felipe. Tudo igual. O batedor do Rafa converte, e ele parece ter ganho na mega sena acumulada de dez anos. Outro tricolor bate e converte. Rafael xinga e eu fico em silêncio. O meu pensamento só dizia: não posso perder para o Rafa, para o Ibis, mas não para o Rafa. Terceiro chute dos Corintianos: pra foooooooooooooooora.

Daqui já não me lembro o que aconteceu direito, só sei que o último tiro seria do Ceni e se ele convertesse seríamos campeões daquela partidinha no sofá da sala, com duas testemunhas. Mas o que eles viram não foi quem ganhou ou quem perdeu, eles viram a mim e ao Rafa celebrarmos a nossa amizade, dessas e de outras vidas, rindo das nossas desgraças e adorando dividir aquele momento mágico. Éramos duas crianças impulsionadas pela rivalidade fraternal.

Agora eu estou na marca do penalti, e você em apnéia, daqui posso ouvir a batida do seu coração, esperando pelo desfecho dessa história, mas eu não vou chutar, ou melhor, contar quem ganhou e quem perdeu, porque o que aconteceu naquela sala, ficou naquela sala. O que realmente importa é que eu e meu amigo, dessa e de outras vidas, pudemos compartilhar um momento da nossa infância não vivida e que eu adorei.

Para Thais e Flávio que testemunharam a nossa velha infância.

3 comentários:

Milena Magalhães disse...

Rubi, que bom que você voltou! Suas crônicas são sempre tão deliciosas! Sua alma de menina fica evidente; não há como negar! E ontem eu lembrava de você, porque finalmente comprei um ar condicionado e pude dormir bem!... Aqui não é tão quente como Recife, mas há dias que é muito quente e muito abafado. E nestes dias lembro de ti e do Alberto, dois reclamões do calor!

E, sim, Poeminha é um menino! Ainda não tem nome, pq os pais são uns atrapalhados e indecisos, mas é um menino se balançando na sua rede imaginaria!

Um beijo.

Laurinha disse...

Depois de ler isso ate eu fiquei com vontade de jogar FIFA no Playstation, hehe!

Catharina disse...
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