Todos os dias, durante essas adoráveis, e quase findadas, férias estou indo a Academia de Ginástica. Oh Deus, o Senhor em sua infinita sabedoria e misericórdia concedeu-me um pouquinho de inteligência, já que como atleta eu sou um perfeito fracasso.
Dia após dia, disciplinadamente, marcho para a academia a fim de cumprir o meu dever físico, pois a deserção seria condenada com a morte, morte do meu sonho de usar um manequim 42. Entre músicas tututututututu, polias, pesos e contra-pesos, contagens que vão de 1 a 8 e de 8 a 1 e finalmente a campanha "Carnaval sem camisa", lançada obviamente na aula de abdominal, sigo minha via dolorosa, sabendo que exercício físico é como cruz, cada um que carregue o seu.
Como boa Pollyanna que sou, tento ver o lado bom da situação, mas devo confessar que desta vez estou precisando de bons óculos para minha miopia de sedentária assumida ou como dizem os americanos coach potato.
Quase um mês depois, ainda me sinto um peixe fora d'água no mundo dos sarados. Eu não entendo a cara de felicidade deles durante os malfadados exercícios. Depois de muito pensar cheguei a seguinte conclusão: é a tal da descarga de endorfina, que deve acometê-los como um tsunami. Já no meu "corpitcho" deve, se muito, ocorrer um tímido gotejamento e eu com a minha mania de economizar os recursos, inconscientemente, vou lá e fecho a torneirinha.
Ainda no quesito "eu quero entender" tem as TVs da sala de esteiras. São cinco, onde cada uma passa um tipo de programação: Discovery Channel, SportTV, Notícias, todas no modo mudo. A única que tem voz, voz ativa é a da Globo e veja que beleza, enquanto eu suo para queimar as calorias, a Ana Maria Braga nos ensina como fazer pães doces, tortinhas e geléias. Não seria mais apropriado vermos e ouvirmos o Sport TV ou quem sabe a Discovery para exercitarmos o cérebro além dos músculos? Mas essas minhas críticas devem ser infundadas, devem existir por eu não ser um deles: os sarados. Afinal eles podem comer tudo, eu é que não.
E para terminar, tenho que contar da minha aula de Body Jump. Seria trágica, se não fosse cômica. Não me enganei, é exatamente este a ordem. Eu tenho uma coordenação motora passível de pesquisa. Ainda hoje não sei como consigo andar de bicicleta, pois tenho dificuldades sérias para coordenar meus movimentos amplos. Mas como estou de férias achei que valia a pena tentar. Quando dei por mim, estava numa mini cama elástica, pulando ou tentando pular de um pé só, depois com outro, depois com os dois ao mesmo tempo e aquele espelho me deixando ainda mais confusa. Depois era rodar, era pular dois pulinhos de cada vez. Foi dando curto circuito, curto circuito e o meu cérebro me perguntava: o que é que tu estás fazendo aqui? Observava minhas companheiras de aula, que pareciam em transe e seguiam perfeitamente as instruções do professor que sequer suava. Depois de quinze minutos, aproveitando um descuido do mestre escapei daquela fábrica de fazer doido. Não me senti totalmente derrotada, porque atrás de mim seguiu uma legião de incapazes, como eu.
Que todo meu sacrifício seja válido e que eu possa, dentro em breve, usar a tão sonhada calça jeans 42.
Para Chatarina Xuxu, que assim como eu, sofre no mundo dos sarados.