16 de ago. de 2008

Vilões



Em 1977 eu tinha 6 anos de idade. Aquele ano teve alguns marcos, tipo a minha hepatite, que me obrigou a comer uma comida horrorosa sem gordura (arroz branco e bifes que pareciam ter saido de um pedaço de pneu) e sem molho algum. As pessoas achavam um sofrimento ver uma garotinha tão magrinha (sim eu já fui caniço, antes de virar samburá) passar por aquela dieta infame e presenteavam-me com doces, que é o alimento ideal para quem está doente de hepatite. A nossa querida vizinha do 903, Dona Maria José (esse nome me causava tanto conflito intelectual - como uma mulher pode ter nome de homem?), fazia a cada dois dias doce de goiaba especialmente para mim, enquanto outros solidários mandavam-me suspiros. Hoje passados muitos anos posso agradecer e confessar, que nunca fui muito fã de doce, nem quando era criança (outra esquisitice) e que quem realmente lucrou com a minha doença, foram minhas irmãs, que comiam trancadas na cozinha a comida que eu desejava e ainda ficavam com as sobremesas. A hepatite ainda tirou a minha festa de 6 anos de idade, pois, obviamente, não haveria festa na situação em que eu me encontrava.
Mas voltando ao que me trouxe aqui, houve outros dois acontecimentos que, realmente, ficaram tatuados no tecido da minha história. Naquele ano eu conheci Darth Vader e Malévola. Um vinha da Ficção Científica de uma galáxia distante, provavelmente em algum lugar do futuro e a outra vinha da Europa durante a Idade Média. Um era homem e a outra mulher. Um queria dominar o universo, a outra queria se vingar de não ter sido convidada para o batizado da princesa Aurora que iria se transformar na bela donzela Rosa (chata de doer). Um tinha um séquito de soldados brancos que o seguia como cães fiéis, a outra tinha um corvo que era inteligente como um cão. Um morava na nave espacial Estrela da Morte (olha a imponência do nome da casa do rapaz), a outra em um castelo medieval aterrorizador no alto de uma montanha. Mas o que mais me impressionava era o que realmente eles tinham em comum, a presença de cena. Não havia herói que preenchesse a tela daquela forma. O que era aquela arqueada de sobrancelha da Malévola ou a respiração de Darth Vader? O que eram aquelas capas, aquelas roupas pretas ou a elegância de se movimentar daqueles dois?!
Até hoje sou apaixonada por vilões, mas os que moram no mundo da literatura e dramaturgia. Acho que no fundo eu os admiro por terem atravessado a linha da sanidade e de lá acenar para nós, livres como pássaros. Embora eu me considera uma "mocinha", preciso sempre dizer que sem os vilões, os heróis e heroínas, nada mais teriam que uma vivência sem graça. Então em nome dos mocinhos, eu agradeço aos vilões por fazer nossa vida tão divertida.

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