5 de out. de 2008

Esperança desbotada


Hoje cheguei a uma conclusäo: as eleições emocionantes, apaixonantes, com cara de final de campeonato de futebol, acabaram. Nunca, em todos esses anos que voto, vi tamanha apatia nas ruas.
Não sei se foram as urnas eletrônicas, a caçada implacável a boca de urna ou, o mais óbvio de tudo: o desencanto total com a nossa ilustre classe política. Tudo que sei dizer é que muita coisa mudou desde da linda e emocionante eleição de 2000 aqui em Recife e não foi para melhor. Neste momento sinto uma nostalgia grande daquele dia, da felicidade que invadiu a cidade, de podermos acreditar que algo diferente iria acontecer. Se aconteceu é outra história, até porque não estou aqui para fazer apologia a partido f, l ou t.
Naqueles dias, para os que não se lembram, nós pudemos nos sentir, do mesmo modo que se sentiram os que assistiram o duelo de Davi e Golias. Toda a equipe do prefeito da época, que tentava a reeleição, aliás tentava não, porque tentativa é feita de erros e acertos e a tal equipe não via no que errar, acreditava piamente que estavam ali só para cumprir tabela. A arrogância era compatível com o ego e o valor da campanha.
Do outro lado tínhamos um candidato tímido, um pouco desajeitado dentro do terno que era um tanto quanto grande para ele e que resolveu entrar na batalha como pudesse e que iria lutar o quanto desse. E assim foi feito.
Primeiro turno: muitas bandeiras de Golias, boca de urna fardada, com chefe de setores, tudo pago, com direito a lanche e passagem. Do outro lado uma militância pobre comendo pippo´s, porém apaixonada, que apesar do que indicava as pesquisas era fiel a sua esperança. Mesmo que tudo terminasse naquele domingo, a militância teria ido até o fim. Votou-se. Apuração. Segundo turno. Epa! Segundo turno? Como assim? Aí queridos, a história mudou de figura. A militância que até então era serenamente solidária, tornou-se alucinada. Sabe como é: quando nada é certo, tudo é possível. Era tanta gente feliz, tanta gente na rua, tanta gente acreditando em um outro final, que aquilo contagiou a cidade e a pequena fagulha transformou-se em uma fogueira que foi vista pelos 4 cantos do país. A equipe de Golias não se preparou para o inesperado e isso a deixou atordoada. Era visível a sua postura de barata tonta.
Até aqui nada estava definido, acordamos naquele domingo sem saber o que o destino nos reservava. Isso sim é emoção. Posso rever meus passos na rua que me levava a minha seção eleitoral. Não precisa nem dizer que estava vestida com a cor do pequeno Davi. Ao passar por uma moça com uma grande bandeira adversária ouvi a seguinte pérola dela para um eleitor: "vá lá amigo, que hoje a noite vamos apagar essa estrela deles" hoje indo votar senti falta daquela provocação. Calma, já está terminando. Pois bem, fomos para casa e começa a apuraçao. Minha irmã Renata na casa dela, ligava-me a cada dois minutos e perguntava "e aí?, pois havia desligado a TV e o Rádio já que não aguentava a pressão. "Rê, Golias está na frente." "Rê, Davi passou" e assim foi durante umas 3 horas. Um sofrimento delicioso. Eu prefiro acreditar que tenha sido uma peça do destino, que sabe contar histórias como ninguém, mas o fato é que a apuração seguia apertada, apertada, apertada, até que de repente a cidade começou a pular, pular, pular, agora só faltava as urnas de Casa Amarela, bairro tradicionalmente militante do partido do pequeno Davi, que venceu pela diferença de 0.73%. O que se assistiu a seguir foi uma festa cívica linda. As pessoas estavam carregadas de esperanças e como é bom ter esperança. Recordo, com grande emoção, da alegria na voz da minha irmã. Ela foi juntar-se aos outros tantos sonhadores que invadiram o marco zero. Uma festa que varou a noite e que tinha tanto brilho que não apagou, mas com certeza ofuscou as estrelas.
Depois do que vi hoje, temo que nunca mais haja outra noite daquela.

Para Renata que é uma guardiã da esperança.

7 comentários:

Unknown disse...

De fato, essas eleições pareciam dia de feira no supermercado. As pessoas iam obrigadas, além de enfrentar uma fila imensa e ao sair não estavam satisfeitas, sempre achando que "estava faltando alguma coisa". Pois bem 2010 pode tentar mudar esse episódeo!
beeeeeeejo

Rubiane disse...

O que me entristece é a visível falta de esperança.

Anônimo disse...

Rubiiiii. crazyyyy

Anônimo disse...

"com candidatos com ficha suja,armas em casa ou sob ordens do tráfcio, eu queria era não ser obrigado a votar.Em democracia maduras o voto não é obrigatório.O cidadão vota se quiser, se acreditar que seu candidato mudará para melhor a cidade, o estado o país. Voto não é previlégio. è direito"

p.s: Palavras de Ruth de Aquino-diretora da Revista EPOCA

Rubiane disse...

Comissário,
Acredito que a obrigatoriedade do voto é controversa. Agora o que deveria ser obrigatório mesmo era a proteção a nossa esperança.
Rubiane

Milena Magalhães disse...

Rubi, pude sentir cada falta de emoção de agora porque pude vibrar com toda a emoção do outro tempo. Sim! Faltam almas pelo mundo da politica... é o que tenho sentido. Mas queria que se repetisse o mesmo agora no Rio de Janeiro. Tenho amigos por la que estão com uma grande fé nele e na possibilidade de Davi vencer Golias.

é pq procuramos a esperança a todo custo e com fé. a mesma que anda faltando aos homens de gravata.

um beijo, rubi.

Sylvia Caxias disse...

Rubi,
Achei linda sua retrospectiva, acredito q muitos recifenses sentiram a mesma felicidade a qual você nos descreveu, eu como nunca consegui acreditar nesses políticos, achei bonita as manifestações da época, mas não fiz parte dela, sempre achei q tds eram iguais...
Agora uma coisa é certa, a falta de brilho das nossas eleições municipais 2008, foi visível, até aqui reduto dos vermelhos, quase não pude ver esses vermelhos nas ruas.
Eu não sei se estou sendo pessimista ou realista, mas não consigo ver nenhuma luzinha no fim do nosso túnel...
Bjão!! Sylvia Caxias