11 de out. de 2008

Dom do Amor.




Hoje, durante o meu momento relax, eu estava vagando na internet, abrindo página aqui, página ali e de repente descobri em uma matéria do Pernambuco de A/Z, uma carta inédita de Dom Hélder Câmara, carta esta que ele escreveu no dia que assassinaram brutalmente Padre Henrique, seu assessor direto.
Como se trata de uma manhã preguiçosa de sábado resolvi procurar no Grande Oráculo (leia-se Google), que informações havia sobre o Padre Henrique. Obviamente, o nome dele estava sempre atrelado a Dom Hélder. Quero antes de retomar o tema Dom Hélder dizer que Padre Henrique foi bem mais do que apenas o assessor direto do Arcebispo de Olinda e Recife na década de 60. Ele era um jovem preocupado com a integração entre pais e filhos, em um tempo que havia se aberto um fosso imenso entre essas duas "categorias" de cristãos. Corajoso e cioso de sua missão, mesmo quando amplamente ameaçado por covardes (pior tipo de ameaça que há, pois nela não qualquer vestígio de honra e sem honra não há misericórdia) o padre Henrique permaneceu acreditando em seu trabalho até que foi massacrado pelas forças da repressão.
Mas o que falar de Dom Hélder? Quando eu era criança, por diversas vezes o encontramos no centro da cidade, com suas batinas bege e aquele colarinho que é tão peculiar aos padres. Minha mãe recorda-se de vê-lo muitas vezes olhando para o alto - hoje acho que ele estava conversando - como se admirasse a beleza do azul do céu recifense. Mas o que realmente era bonito de se ver, era como ele era afetuoso com aqueles que o encontravam e vinham falar com ele. Acho que quem ama seu semelhante, sempre vê a si mesmo no outro, talvez por isso ele celebrasse com tanto carinho esses encontros.
Durante a minha pesquisazinha de nada, pude ver o quão injustiçado o Dom Hélder foi. Imagine você o que é ser acusado, achincalhado, ter suas palavras deturpadas e não poder, por ordem tácita e expressa do Estado, ter ampla defesa ou direito do contraditório e mesmo assim não esmorecer. Acreditar sempre nos seus ideais e que nada foi em vão. Creio que sua angústia de homem, foi diversas vezes esmagada por sua fé e agradeço a ele por isso. Acreditava que dias melhores viriam e não só acreditava, como fazia por onde abrir caminho para eles. " Eu aprendi isto em 1980, quando estudava as ocupações no Recife, e pude constatar que o D. Hélder Câmara contratava os melhores jovens advogados do Recife para poder apoiar a luta pela legalização das ocupações de terras à luz de preceitos constitucionais, que ainda não eram os de 1988, e organizava à volta da ação judicial uma forte mobilização política"(1).
Dom Hélder se importava com o seu semelhante. Queria que todos tivessem uma vida melhor, digna e feliz. Ele buscava o que todos devem buscar, justiça social e respeito ao próximo. Não é à toa, que só ele tem o título de Dom do Amor

Para você que ficou comigo até agora, uma frase de Dom Hélder:

“Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante ... Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo...”

(1) Para uma Revolução Democrática da Justiça. Boaventura de Souza Santos.
Cortez Editora, 2007.

2 comentários:

Magna Santos disse...

Muito bom poder ler sobre o Dom. Acabei me lembrando de um documentário, onde ele falou do cuidado com a própria vaidade. Contou que se surpreendia com o alvoroço que causava ao entrar em algum auditório. Temendo a danadinha que todos nós temos (vaidade), ele resolveu fazer um acordo com Jesus e disse mais ou menos assim: "Senhor, és tu entrando em Jerusalém. Estes aplausos são para ti, Jesus. Eu sou apenas o teu burrinho". Só aí ele passou a entrar tranquilo e seguro. Linda lição de humildade! Obrigada, Rubiane. Faz bem a alma estas lembranças em uma manhã de domingo. Abraço. Magna

Unknown disse...

Ela sabe tudo de descrever os fatos, os acontecimentos, as pessoas! Brilhante como sempre. Beijão