4 de jul. de 2009

A Coleira.


Apresentação

Devo dizer que este não será um texto fácil. Portanto se você quiser deixá-lo de ler aqui, eu não só entendo, como recomendo. Este texto não vai te deixar feliz, nem tão pouco pensando em coisas boas.

Prólogo

Eu já falei de Megabyte aqui. Da importância dela nas nossas vidas. De quanto fomos felizes por ela ter dividido sua breve existência conosco. Vou contar mais uma coisa sobre ela. Desde sempre Mega teve em seu lindo pescoço uma coleira, tipo corrente, onde havia uma placa com seu nome e nossos telefones, caso, Deus me livre, ela se perdesse. Ela a usava diariamente, só a tirava para tomar banho e quando acabávamos de a enxugar balançávamos a corrente e ela vinha para colocarmos novamente. Era engraçado, parecia que sem a coleira ela se sentia nua. Acho que ela também tinha medo de se perder da gente.

É hora de você desistir...

Sábado passado fui deixar Flávio no Recife Antigo, por volta das 7 horas da manhã. Resolvi voltar pela Avenida Sul, coisa que nunca faço. No final da via há uma ponte que nos liga ao bairro de Afogados. Não havia o tráfego intenso, mas havia carros o suficiente para que eu não parasse imediatamente. De repente olhei para o lado direito da ponte e vi um homem, na casa dos 20 anos vestido de bermuda, tênis e camisa de malha.Segurava por debaixo das patas dianteiras um cachorro amarelo de costas para si, um vira-lata desses fortinhos (estilo pitt bull), do outro lado do parapeito da ponte. Eu testemunhei exatamente quando ele o soltou. O mundo parou. Eu não conseguia crer naquilo que meus olhos estavam vendo e por um momento invejei Édipo que arrancou os seus. - Eu disse para você desistir - . Ele deu uns passos e olhou para o rio, talvez para certificar-se de que a sua ação tenha sido prodigiosa e então naqueles milésimos de segundo, que ficaram gravados a ferro e fogo em minhas retinas, eu vi o pior, ele guardou a coleira do cão no bolso. Ele atirou o cão no rio, mas guardou sua coleira. Meu Deus, tem algo errado, muito errado.

Minha cabeça processava tudo tão depressa que não sei como não subi a calçada. O cachorro, o rio, a coleira. Imediatamente uma enxurrada de lembranças invadiu-me: Mega e sua banheirinha rosa, sempre com água morna e de sua correntinha com placa que ela ostentava com tanto orgulho. Pensei no pobre do cão, nas suas patas traseiras patinando no ar, na sua queda livre, no seu mergulho. Não sei se ele sobreviveu. Eu com certeza, naquele momento, morri um pouco mais do que o que habitualmente morremos a cada dia.

Ainda não passei pela ponte, mas um pedaço significativo da minha credibilidade na raça humana foi atirada de lá, e com certeza, não sobreviveu.

Epílogo

Quando for minha vez de encontrar o Criador quero que na minha mão ao invés de um terço ou flores coloque-se a coleira de Mega, que está devidamente guardada para isso. Quero levá-la para ela. Quero novamente colocá-la em seu pescoço, porque uma coleira não é nada sem um cachorro. E um Homem não é nada sem o amor de um cão.


Para Rosa Zarella,
por seu amor incondicional aos animais em perigo
e a quem eu admiro ainda mais.
E para Dora Maar, que hoje tem casa, comida e coleira.

5 comentários:

Unknown disse...

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Você, como sempre, acaba comigo com esses posts. Quando tu for colocar a coleira de Mega nela tu me leva também pra conhecê-la?! :)

Beijo grande.

:*

Pips Marshall disse...

Putz, Rubi! Vc sabe que chorar nunca foi problema para mim, mas essa me derrubou! Soco no estomago!! Não sei se vc sabe, mas quando estou aqui em Porto Velho, fico na casa de uma amiga, que tem(tinha) cinco pittbuls, tres machos e uma fêmea, e uma delas era a mãe dos quatro, pois é eles cresceram e a disputa por espaço foi feia... Tigreza, a mãe de todos, foi derrotada por o mais forte deles... Um dia acordei e como de costume fui até a janela da cozinha, gritei o nome dela e ela nada de aparecer, fiquei com o pãozinho dela na mão e como ela demorou muito fui até o quintal procurar por ela, encontrei uma cena "dantesca" ou "ulissesca": Ela morta e os urubus que enchiam as árvores e o ar devorando-a! Numca mais esquecerei...

Rubiane disse...

Fabíola,
Sem palavras.
Rubi

Tita disse...

Depois vc diz que sou uma inacreditavel chorona!!! Ave.... Buáaaaaaaaaaaa!!!

Anônimo disse...

Não tem como não se emocionar com essa história. Nunca havia pensado na importância de uma coleira!!rsrs Mas ela pode representar o cuidado - caso ele se perca e a saudade - quando ele parte. Não tenho a coleira de Toffy, mas sim sua medalhinha, que está bem ao lado da imagem de São Francisco de Assis, que é quem está guardando meu amigo, até o momento do nosso encontro. Obrigada por compartilhar essa passagem comigo, Rubiane, e também pela grande ajuda que tem dado a Scott. Fica com Deus.